Os jovens estão mais "complacentes" quanto a comportamentos de risco por pensarem que a sida já não é uma doença "rapidamente mortal", alertam os especialistas.
"É muito importante reforçar medidas de prevenção na população mais jovem para quem a sida já não é uma doença rapidamente mortal e, portanto, estarão muito mais complacentes, como é próprio da adolescência, quanto a comportamentos de risco", disse o director do serviço de Infeciologia do Hospital Egas Moniz.
Kamal Mansinho explicou que "a ideia não é inibir ou proibir esses comportamentos de risco; é proporcionar informações de maneira mais adequada possível e ajustada à idade, de modo a que este grupo populacional possa adoptar as medidas de precaução no momento certo".
"É comum encontrar na consulta adolescentes que se infectaram recentemente e que dizem saber como a doença se transmite, mas naquele momento não foram capazes, por várias razões, de colocar um preservativo", contou o médico a propósito do Dia Mundial da Sida, assinalado hoje, quarta-feira.
Para o especialista, há competências que vão ter de ser trabalhadas de uma maneira mais objectiva. "Mais do que falar exclusivamente sobre o benefício do preservativo, da educação sexual ou de se protegerem é muito importante trabalhar em conjunto com eles a percepção de risco".
A auto-estima, o comportamento da cidadania e do respeito recíproco são competências que têm de ser trabalhadas. "A tudo isto temos de acrescentar o acesso que as pessoas têm às novas tecnologias para o bem e para o mal".
Kamal Mansinho contou que acompanhou há pouco tempo um jovem que estava em "altíssimo risco" de se infectar porque nos contactos que foi tendo pela Internet encontrou alguém que ia ao encontro das suas fantasias sexuais.
É uma "nova dimensão" para a qual os profissionais devem estar alerta para que se possam encontrar instrumentos de prevenção para lidar com estes novos fenómenos, sustentou.
Três décadas após o aparecimento da sida, que já matou 25 milhões em todo o mundo, o médico afirmou que ainda "há um longo percurso a fazer, apesar de alguns progressos impressionantes", como a terapêutica antir-retrovírica, que contribuiu de uma forma "muito expressiva nos países industrializados para o aumento da longevidade" e para melhoria da qualidade de vida dos doentes.
Mas os mesmos medicamentos que operam "aspectos impressionantes" no controlo da doença, ao modificarem o curso natural da infecção por VIH nos indivíduos que são acometidos pelo vírus, também contribuem para a modificação da percepção do risco da comunidade.
"E isso é o reverso dessa mesma moeda do sucesso. Isto é a própria comunidade, ao perceber que era possível sobreviver mais tempo com a infecção e com uma boa qualidade de vida, acabou também por ser mais complacente com os riscos de contrair a doença", sublinhou.
O especialista lembrou ainda que é muito importante que a comunidade tenha presente que, apesar de todos os progressos relacionados com a terapêutica, não há uma vacina que previna eficazmente a transmissão da doença, apelando à prevenção.
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